segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Crisálida

Vazio
Metamorfose
Agonia
Um implante de asas vou inventar
para que do céu
aviste diminuto
tudo o que deve
permanecer pequeno.
Divago...
volto ao desconforto do mistério
retorno ao útero
e sua sombria dor
de latência.
Pareço mutilada
pois liberto
vícios do passado
que acorrentam
mente e gesto.
Luto
ebulição interna
já não vejo o fora
porque tudo o que se move é dentro.
Coração e vísceras,
pensamento e grito.

sábado, 19 de setembro de 2009

Fel



Do copo de fel que me deste,
nada sobrou;
sorví até a última gota;
envenenada, fiz parte de teu martírio;
julguei-me por ele responsável.
Hoje sei que era tudo o que podias me ofertar,
a tua seiva amarga e destrutiva;
dor, peso, prisão...
Lá permanecí por anos,
cela aberta e eu não via.
Ainda tento sair e não posso,
contaminada pela droga,
sem forças, só observo;
oscilo, levanto e caio.
Agora...espero;
um antídoto
capaz de me salvar
e arrancar
meu corpo inerte
do cárcere frio.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Luz e Sombra


Encontrar o eixo
o meu eixo
sem apoio ou muleta
apenas meu centro.

Ao encontrá-lo, toco Deus
ou a Deusa, ou a mim mesma
transformada em Divindade,
a plenitude em Luz e Paz.

Mas é tão rápido,
semi-fusa em andamento acelerado,
que logo tremo, desço e tropeço,
voltando a procurar aquela nesga de luz,
efêmera e rara.

Onde estou que me perco sempre?
Quem sou que só às vezes me encontro?
Ainda em dúvida e crise me desfaço,
como quem se busca inteira
mas que hoje é só um pedaço.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Outro lado da noite


A noite protege suas criaturas...
confusos morcegos saem à caça,
sorrateiros lagartos
e famintos seres competem.
Executivos se vestem de mulher
e travestis se passam por putas.
meninas vomitam na porta do bar,
enquanto bad boys espancam um taxista.

O mendigo se urina para se aquecer
e bebe prá esquecer a dor;
em casa, patéticas esposas
se iludem em frente ao computador,
encontram homens medíocres,
papos masturbatórios,
o que vale é exibir o ego
e enganar a alma.

É! A noite esconde o podre
a identidade
os olhos
a verdade;
como os ratos
que devoram agora
os restos de comida na dispensa
e uma barata furtuita
sobe
pela perna da mesa.


sábado, 11 de julho de 2009

No Espelho






Sou quebra-cabeça
multiforme
embora única,
desconstruída,
fragmentada,
restaurada...
sei de partes
conflitantes
que ligadas
tornam-se unas
novamente
como colcha de retalhos
colorida
desbotada,
puída, bordada
que desfia aqui,
costura-se acolá
e se for vista só um pouco,
perde-se a ideia
da totalidade.
Cada pedaço,
uma história;
cada marca,
cicatriz
multi partida,
talvez
fortalecida,
[e às vezes eu mesma
não consigo perceber-me]
quando junto
os pedaços
tão diversos,
controversos
gritam cores
calam medos
alinhavando o tempo
num compasso distorcido.

Salpicada de buracos,
cacos estilhaçados
que colados
não emendam;
esfarelados,
tornaram-se pó;
melhor aceitar essas lacunas,
(às vezes penso)
e entendê-las
como páginas em branco
onde eu possa passear
dançando um pouco
e, assim, rabiscar não sei o quê,
mas que permito ser inventado pelo novo.


quinta-feira, 2 de julho de 2009

Abraço




Sedutora é a noite...misteriosa

com seu belo manto protetor...


Tanto já foi dito sobre ela
e cantado em verso e prosa,
só me resta acrescentar
o que sua magia em mim provoca.

Talvez por ter nascido à meia noite,
sinistra hora das bruxas,
a verdade é que ,
coincidência ou não,
é quando desperto.

Injustiçada pelas mentes
mais conservadoras,
"Deus ajuda a quem cedo madruga",
ainda ouço minha avó repetir.
Transgressora aos olhos deles
e de suas crenças apoiadas na braganha;
já renegada, insisto na pergunta:
Por que depois de certa hora
acende em mim estranha chama
de um desejo enorme,
por perceber o mundo em suas minúcias,
desbravar caminhos nunca antes visitados.

Talvez o ar e as estrelas,
e seus silêncios perfumados
de saudades.
Ah! O silêncio, quem dera!
Acho que estou ficando velha.

Nesta nervosa cidade,
meia noite é meio dia,
baladas, buzinas,
esquinas lotadas,
latinhas de cerveja na mão,
fervilhar de gente...

Não, não é esta a noite que me inspira,
mas o sossego de poder
casar com ela
e junto carregar o brilho da lua,
consagrando a quietude do relento
ao abraçar uma antiga
árvore amiga.

Carmo

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Equívoco





Pensava que fosses criança, mas não és;
Acreditava-te ingênuo, e percebi que não te conhecia.
Descubro-te; percebo tuas fraquezas,
mas também vejo-te hoje, diferente de quem eras.
Mais lúcido, surpreende...ainda tropeças,e
é compeensível para quem começa a andar,
especialmente quando a escolha é em direção a si mesmo,
tão acostumado com o atalho obscuro do fracasso.

No entanto, continuo certa do que vejo,
(na luz que sempre ví)
talvez teimosa ou crécula,
ingênua, mas espero,
transformado no quê não sabes,
mas eu sei.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Recomeço







Hoje quero
correr descalça
na areia,
ter nos ouvidos
assobios e lembranças.

Girar, dar cambalhotas
de sonho
e, estatelada no chão,
descobrir monstros
nas nuvens.

Hoje, quero
ser menina de novo,
ver no futuro
uma vastidão,
o passado, onde mora,
não lembro.

Só tenho o agora,
roçar da grama...
vergões nas pernas,
joelhos ralados,
e as dores
são resolvidas soprando,
ou com mercúrio e ban aid.










terça-feira, 16 de junho de 2009

O Quarto Escuro





Encontrei um quarto escuro aqui dentro,
como um vão de escada, um beco...
Cheio de nada, mas carregado de sussurros.
Ninguém o visita, nem eu tão pouco;
mal vejo que existe, mas está lá...
como um pássaro morto
deixado no freezer da geladeira.

E está vivo,
pulsa sombra adormecida,
prenuncia solidão e perda;
como quando se vem ao mundo,
num desamparo que segue a vida...
que pode ser feliz e cheia de sonhos.

Mas ele permanece lá... o quarto escuro;
avisando fins e começos,
separações e medos,
que são despertados à noite,
ao soluçarmos baixinho, no travesseiro.

Às vezes, sua porta se abre,
sempre na hora do parto,
e depois, inevitavelmente,
ela escancara, na hora da morte!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Pedaço da vida







E agora?
O que quero?
O que me envolverá
e não dará para aguentar?


E me tomará inteira,
engolindo minha alma
e me aquecendo a vida?
Ainda não sei...


Só sei que de certo,
haverá algo que me encante;
e me faça novamente
crer no brilho do sol,
na brisa e nas estrelas.


E me fará, excitada,
passar a noite em claro,
mergulhada em
invenções malucas;
que vão mexer comigo toda,
lambendo minha pele,
arrepiando minha nuca.


O que será?
Ainda procuro e não encontro.
E deve ser algo só meu,
que como um chamado
há de me despertar.


Sei que o poder deve partir de mim,
mas essa força ainda não tenho.
Hoje, essa certeza me ajuda
a abrir os olhos pela manhã
e é o sonho que me faz dormir.


Só espero que eu descubra logo...
para curar este vazio
que me corroe por dentro
e não me deixa parar
de chorar, e chorar e chorar.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Arrepio na Espinha




Arrepio de lembrança
cheiro de sonho
incerteza...

Nesga de luz,
no meio da sombras
A M A N H E Ç O.
O ar que respiro
conta segredos
de silêncios.
Um forte desejo,
doce esperança,
e um beijo.



Carmo Tavares

terça-feira, 2 de junho de 2009

O Meu Amado






Quero que meu amado seja aquele,
disposto a investigar meus ais.
E que, compreendendo minhas fraquezas,
vá se enfiando em meu coração,
e bisbilhote vontades,
especulando momentos...
e com seus doces beijos me seduza,
e por cima de mim entre
bem dentro de minha alma,
convidando-a
para mergulhar em seus olhos,
e que eu creia neles,
por ver a luz do sol
a iluminar o seu amor.
Carmo

terça-feira, 26 de maio de 2009

RASCUNHO



O que escrevo, nasce das entranhas...
são verdades tão minhas
como uma paixão avassaladora
que precisa ser exposta, expressa, expulsa.

E é tão necessário que exige que eu busque,
avidamente por um lápis e papel e, assim,
derramando cada palavra,
possa lavar minha alma
e fazer vibrar meu coração.

Não escrevo porque devo,
mas porque preciso;
como preciso de ar e água
como desejo amar inteira,
com fome e ardendo em febre
e o beijo é o remédio,
se não o beijo, a palavra que,
desaguando em versos,
culmina num suspiro.

Carmo Tavares

SER




Quando crescer,
quero ser árvore...
pés presos no chão
feito raiz,
firmes e fortes.

Quando crescer,
quero ser árvore...
alcançar o céu com meus braços
e manter-me serena,
mesmo enfrentando ventos e tempestades.

Quando crescer,
quero ser árvore...
que floresce a cada primavera
e no inverno aceita
que é preciso perder suas folhas
para se manter bela.

Quando crescer,
quero ser árvore
para abrigar ninhos de passarínhos,
sem ter tristeza quando partem em revoada,
livres pelo mundo.

Quando crescer,
quero ser árvore...
que proporciona sombra amiga
à qualquer um que procure,
no entanto não se abala
se nunca mais voltar a ver
os que receberam seu carinho.


Quando crescer,
quero ser árvore...
ter as raizes firmes no chão
e com meus galhos
encostar na lua
e sentir cosquinha.