quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Silêncio




Prezo silêncio...

a estaca não pára!

Buzinas, o cão,
motores...
de carros, caminhões,
do gás, do lixo,
notas infernais
e as ouço todas
em suas nuances
milimétricas.


Timbres insólitos,
agressores insuportáveis,
conspurcam uma paz urgente...


Prezo o silêncio!

Aquieto-me...

então,
ecos do passado
invadem
com uma ganância aguda,
fazendo eclodir memórias,
vozes, medos,
sonhos,
projetos inconclusos,
num redemoinho de pensamentos
incontroláveis...

Rogo por uma nesga de silêncio,
e me é tão caro...

silencio enfim,
para o mundo e para mim...
e o telefone toca,
toca,

toca,



toca...

já não o ouço

vez ou outra ainda,
como lâmina afiada,
novo enxame de ruídos
voltam a dilacerar
meu raro silêncio

permaneço...

a prezar por ele,

silencio...



Erin lagus

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Fenix






Cinzas, colho cinzas
e descubro nelas
sementes novas,
cuido de cada uma
como se fossem jóias
preciosas.

Último plantio
espero
que nasçam flores
as mais belas
e floresçam
...todas...

Testemunhas do tempo,
sofrimento e glória,
e só quero
um ramalhete de
rosas, primaveras
de todas as cores
e que provem
que há vida
e com ela a esperança
dos dias que passam,
amadurecem a semente
que é fértil
e brota,
cresce,
sempre.


Erin Lagus

domingo, 1 de agosto de 2010

Trilogia de Erin - III- A volta do Gamo Rei!



Desperta afinal o Gamo,
peregrino a vagar
pelas trevas.
Cruel pesadelo auto-imposto;
vassalo tornou-se de espectros cegos.

Embriagava-se ao sugar,
servindo banquetes à mercê de palavras,
em simbiose letal, inerte,
o seu sepulcro buscava.

E assim, jazia ele,
vítima de seu próprio martírio!
Lá, permaneceu largos anos,
esquálido flagelo,
da morte cativo.

Oculta, porém, nos escombros,
estava quem migalhas colhia ...
cuja existência marcada,
despertava piedade e simpatia.

Sorrateira, tornou-se alento,
para aquele que nada mais era,
amiga, envolvia-o na teia,
ao contentar-se com reles quimera.

Ardilosa, matreira, fingia idílio
e amizade sincera,
mas nas sombras comprava vida,
às custas de sortilégios.

Enfeitiçado e perdido,
não enxergava armadilha,
tramada a meia noite ,
na porta do cemitério.

Sacrifícios e sangue foram o preço
de tal macabra investida;
e de luto, o pobre sofria,
ciente que só caía, só caía!

Paciente, sua amada o esperava,
ingênua, nada sabia,
mas vítima dos malefícios,
só dormia, só dormia....

Até que, lúgubre grito,
despertou-a de sono profundo,
destroços tomavam lugar
do que antes era seu cultivo.

E foram dias de mágoa,
terror e dor infinita,
de quem conhecia o amor
lealdade e livre-arbítrio.

Com um punhal cravado no peito,
roga aos céus em feroz clamor,
acolhido de imediato
livrando o gamo de seu torpor.

Foi esse amor verdadeiro
a glória do Gamo Rei,
ainda tropeça, mas cria,
o próprio roteiro
que agora é só seu.


Erin Lagus